sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Dizer Adeus Devagarinho

 A morte chegou.

Foi-se anunciando com suavidade, de maneira que eu e tu nos pudéssemos despedir, sem pressas ou grande choque.

O dia chegou, 29 de dezembro de 2020. Hoje faz precisamente 1 mês.

1 mês de "guerras internas", do chora ou não chora.
De arruma, dá , deita fora, oferece.
E 1 mês de te conhecer melhor do que eu julgava ter conhecido nestes 47 anos de relacionamento que nos foi permitido ter.
Todos os que me falam de ti, mais conhecidos ou menos, mais próximos ou não, lamentam a tua partida sempre com as palavras paz, tranquilidade e serenidade a acompanhar o teu nome.

Despedi-me conscientemente de ti na véspera de Natal, achando que o dia do Adeus estava a chegar, sorrateiro e anunciando-se com o aumento do teu sofrimento, a fraqueza na tua voz e a certeza a instalar-se no meu coração que muito em breve teria de ver-te partir.

Umas semanas antes tinha comentado cá em casa, que para mim 2020 não seria o ano do COVID-19, seria o "ano da minha Mãe". 

E assim foi. Assim ficará gravado na minha memória. 

Que enquanto o mundo inteiro travava a batalha mais inesperada de sempre, tu partias da minha vida, dos meus telefonemas, da minha casa, da tua casa e de tudo o que fazia parte de ti e de mim.

Hoje abri o teu roupeiro, apenas para te cheirar e ser transportada a outra vida, celebrar a pessoa que foste e és em mim, para sempre.

As vezes que nos últimos dias  me disseste: "obrigada minha filha, minha Gabyzinha, por tudo o que tens feito por mim" e eu apenas te respondia que não era para agradecer. 

Será que sabias que eu seria capaz de muito mais (se fosse possível), para que tudo ficasse bem e tu não tivesses de sofrer?

Posso não saber grande coisa, nem ter grandes certezas, mas sei que eras uma Mãe cheia de orgulho em mim. E eu pergunto: o que posso querer mais?

Obrigada por teres sido minha Mãe!

Digo-te adeus devagarinho. Todos os dias mais um bocadinho.